quinta-feira, 10 de julho de 2014

Dissertação mundialista

       Só faltam dois jogos para acabar o Mundial'14. Só faltam uns dias para umas merecidas férias. Entre os que respiraram o futebol deste Mundial e os que culpabilizaram os primeiros pelas diferenças sociais no país e pela distração provocada pelo certame quando há coisas graves a acontecer no Médio Oriente, no Iraque, na Ucrânia, na Europa, no Espirito Santo, etc., eu...não quero saber! 

Todos sabem que a Fifa é um ninho de cobras. Já havia coisas graves a acontecer em 2010 na África do Sul. Lá por isso não quer dizer que não se goste de ver futebol. O mundo está podre e com ele o Mundial e o futebol. Mas á austeridade que já reina as nossas vidas não é preciso somar a austeridade de conceber o futebol como um prazer culposo (culpável, culpabilizante, bah). A imoralidade existe, está aí para ficar. Mas não está na minha televisão nem no meu sofá. Está nos fundos de investimento, no gabinete do Blatter e do Platini, está nas empreiteiras apoiadas pela Fifa, está na lavagem de dinheiro, etc. mas não no espectador. Ele já gostava de futebol antes desses negócios aparecerem. Porque é afecto. E é esse que é o motor da moralidade. 

Futebolisticamente: posso comprar uma t-shirt dizendo: "Eu vi o Brasil levar 7-1 da Alemanha." Foi histórico. Daqui a 100 anos ainda se vai falar disto, como uma memória distante, mas nunca apagada. Ninguém pode dizer que estava á espera disto! A dada altura foi tétrico e mórbido. Mas posso orgulhar-me de prever o sucesso Argentino. Todos disseram: "ah não jogam nada!"  Pois não. Mas têm Messi, Di Maria e Mascherano, secundados por uma equipa com uma ideia de jogo concreta. Apesar de ser pobre, é alguma coisa. O Brasil tinha grandes propósitos mas tudo muito no ar. Curiosamente ou talvez não era no ar que a bola passava a maior parte do tempo. 

O insucesso brasileiro tem um grande paralelo com o insucesso português. Falta de ponta de lança? Check. Humilhação com a Alemanha? Check. Selecionador teimoso? Check. Problemas estruturais, Federação obsoleta e empresários acima do interesse desportivo? Check! Ah, Estádios sobredimensionados para a capacidade das equipas que lá vão jogar? CHECK!

Interessante ver que o tempo de Portugal enquanto campeões morais da formação, das gerações de ouro acabou. Esse título é das francófonas Suiça e Bélgica. A Colômbia é potencial candidata á Copa América. Provavelmente, França ou Holanda disputarão o Euro'16 com a Alemanha. A Mannschaft vai arrebanhar tudo durante uns anos. Mas insisto neste ponto: o nosso insucesso não pode ser comparado com o da Espanha (continua a ter um futebol infinitamente mais produtivo), mas sim com o brasileiro. 

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Lembrete

Não te esqueças nunca da criança dentro de ti. Nem te esqueças de onde a escondes. Perdes as chaves de ti próprio...

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Primavera dos sentidos

O céu está nublado e os pássaros piam porque se trata da primavera,
é o que se vê desta janela, é o que se ouve nestes ouvidos.
Desta janela também se ouve e os ouvidos também vêm.
Vêm a primavera e vêm quando nos tentam foder,
com palavrinhas mansas e chilreios de rapina. A primavera
é tempo de sedução mas também de predação.

Por isso vê
os passaros piam.
Ouve
o céu está nublado.
tem cuidado.

Apazigua-te, escuta e olha! (como dizia o Emílio),
mas cheira, porque se trata da primavera! e prova e sente!
Com o corpo todo, porque quando nos tentam foder,
não é de corpo inteiro. É só uma foto tipo passe, sem reverso
e sem medalha.

Fode alguém
com o corpo inteiro
com reverso,
com mil reversos,
porque se trata da primavera. Da primavera da vida.